18/04/11

Vencer a coligação negativa

A Assembleia da República, sem novidade e em impressionante coligação negativa, acabou por recusar o PEC e o Governo foi a Bruxelas de mãos atadas. Numa imagem que só tem de feliz o facto de resumir na perfeição o que se está a passar connosco, Teresa de Sousa comentou que nos lançaram uma bóia e que nós a ignorámos, preferindo afundarmo-nos suicidariamente. É um episódio ao gosto da nossa melhor tradição trágico-marítima. Quem nos atirou a bóia, por certo com alguma estupefacção, tem agora em mãos um náufrago para reanimar, quando a 11 de Março, semanas antes, tinha um doente já diagnosticado, com terapêutica definida e já com sinais de convalescença.
De um esforçado optimismo, passamos, num piscar de olhos, ao pessimismo puro e duro.
O “Financial Times” escreveu (24.03.11) com a clareza que se lhe reconhece que, durante o último ano, o primeiro-ministro português “batalhou incessantemente” na cena internacional para convencer os mercados e os parceiros da UE de que o nosso País não necessitaria de seguir os passos da Grécia e da Irlanda.
No final, foi a nível doméstico que tudo se precipitou. A crise política cria incerteza quanto à forma como Portugal vai realizar as medidas de redução do défice, e vai empurrar o país para a ajuda financeira da UE e do FMI, conclui o FT.
Do vertiginoso dia 23 de Março podemos reter imagens que vão com certeza perdurar. Destaque-se o gesto de coragem do líder parlamentar do PS, Francisco Assis, no elogio ao Governo e à qualidade e personalidade de José Sócrates, mas também a atitude do primeiro-ministro que sai de cabeça levantada, olhando bem de frente, com ideias claras que mostram que está pronto para a batalha eleitoral que se avizinha.
Dos nossos adversários apenas resultam os tons sépia da agressividade, do esgar de ambição e do vazio de ideias, com propostas de soma nula.
Do lado do Presidente, em vez de um sinal de conforto, houve o silêncio de uma nota circunstancial no sítio da Presidência. Temos de nos habituar a esta forma de comunicação distante, fugindo ao diálogo e ao confronto. Se assim continuarmos, o país ficará cada vez mais entregue a si próprio, preso às suas sombras. O claro apelo de Mário Soares, nas vésperas, parece ter tido um efeito inverso ao pretendido. Será necessário reter este facto para memória futura.
Até Junho, em plena campanha eleitoral, Portugal vai voltar ao mercado para solicitar 8,3 mil milhões de euros necessários ao financiamento público. Não é imaginável em que condições obteremos os empréstimos e a ideia de que pode ser a juros inferiores aos actuais só pode estar neste momento - a vida tem destes paradoxos - no optimismo de fábula da coligação negativa. Certamente os eleitores saberão acertar as contas finais.
Correia de Campos



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